A
ex-senadora Marina Silva é bem mais pragmática do que supõem seus
adversários. Neste sábado, ao participar de um ato de campanha em
Recife, ela fez seu primeiro aceno ao ex-governador paulista José Serra,
dizendo que ele “não vai faltar” ao seu governo.
Ao lançar uma ponte rumo ao PSDB de
São Paulo, Marina, que tem como coordenador de campanha o ex-tucano mas
ainda serrista Walter Feldman, fez um gesto calculado. Depois de rachar o
empresariado paulista, com o apoio de grupos como Itaú e Natura,
turbinado ainda pela chegada do financista André Lara Resende, ela quer
agora implodir o PSDB.
Recentemente, outro tucano de
linhagem serrista, o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, disse
que um governo Marina contaria com o apoio de economistas tucanos na
burocracia do governo e de parlamentares do partido no Congresso. Ou
seja: para determinada ala do PSDB, Marina já parece ser mais plano A do
que plano B. Se Serra, que ainda se ressente de uma suposta falta de
apoio de Aécio nas eleições de 2010, perceber que poderá ter espaço num
governo Marina, o candidato tucano terá muito trabalho para ultrapassar
Marina até o dia do primeiro turno.
Na caminhada em Recife, Marina
também mencionou outros políticos. “O PMDB de Pedro Simon não vai nos
faltar. Tenho certeza de que o PMDB de Jarbas [Vasconcelos] não vai nos
faltar. O PDT de Cristovam (Buarque) não vai nos faltar. O PT de Suplicy
não vai nos faltar. Eu até te digo mais: mesmo que estejamos em
palanques diferentes, se não for o Suplicy e for o Serra, eu tenho
certeza de que ele não vai nos faltar”, afirmou a ex-senadora. O
endereço da mensagem era José Serra.
Leia, também, reportagem da Reuters sobre entrevista concedida por Marina em Recife:
Marina Silva diz que Brasil não precisa de um “gerente”
Por Felipe Pontes
RECIFE (Reuters) – A candidata do
PSB à Presidência, Marina Silva, voltou ao Recife uma semana após o
funeral do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para realizar o
seu primeiro ato de campanha desde que passou a encabeçar a chapa do
partido, e criticou a visão de que o Brasil precisa de um “gerente” no
comando do executivo.
“No Brasil, se criou essa história
de que é preciso ter um gerente… O Itamar (Franco) não era um gerente,
era um homem com visão estratégica. O Fernando Henrique (Cardoso) é um
acadêmico, não era um gerente, mas era um homem com visão estratégica. O
Lula (Luiz Inácio Lula da Silva), um operário, não era um gerente, mas
um homem com visão estratégica”, disse a ex-senadora.
“Quando se tem visão estratégica, se
sabe reunir equipes, a gente consegue os melhores gerentes. Quando não
se tem, não se consegue gerenciar nem a si mesmo”, acrescentou Marina,
que caminhou por quase duas horas ao lado do candidato a vice, Beto
Albuquerque, pelas ladeiras de um bairro pobre na Zona Norte do Recife.
Em comício ao final da caminhada,
Marina criticou alianças de campanha entre aliados que aparentam juntar
“água com óleo”, mas ao ser questionada sobre como pretende garantir a
governabilidade, caso eleita, não descartou aliança com membros de
nenhum partido.
“Não critico fazer alianças, eu
critico fazer as alianças inadequadas. Se nós fizermos um movimento na
sociedade brasileira, Marina e Beto, de vitória, pode ter certeza que o
PMDB do Pedro Simon não vai nos faltar. O PMDB de Jarbas (Vasconcelos)
não vai nos faltar. O PT de (Eduardo) Suplicy não vai nos faltar”, disse
a candidata. “E mesmo que estejamos em palanques diferentes. Se não for
o Suplicy, for o José Serra (PSDB), eu tenho certeza que ele não vai
nos faltar”, acrescentou.
O material de campanha utilizado no
ato não continha referência à Marina como candidata à Presidência,
enquanto o rosto de Eduardo Campos estava estampado em posteres e
adesivos espalhados pelas casas. Um carro de som anunciava “Eduardo
presente, Marina presidente” à frente do grupo, que seguiu rodeado por
centenas de militantes do PSB e acompanhado por um boneco gigante da
candidata.
Marina, que era candidata a
vice-presidente, tomou a liderança da chapa do PSB após a morte trágica
de Campos no dia 13, em acidente aéreo na cidade de Santos (SP).
FATOR PREVIDENCIÁRIO
Durante o comício, o candidato à vice-presidência defendeu o fim do fator previdenciário.
“Os nossos adversários são aqueles
que não deixam acabar com o fator previdenciário e obrigam o trabalhador
que contribuiu com cinco salários, com dois salários mínimos, se
aposentar depois, para o resto da vida, com um salário mínimo. Nós vamos
mudar isso”, disse Albuquerque, no palanque ao lado de Marina Silva.
O fim do fator previdenciário,
instituído durante o segundo mandato do governo ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) para evitar aposentadorias precoces e desafogar
as contas da Previdência Social, é uma antiga reivindicação dos
movimentos sindicai
Os candidatos do PSB não deram detalhes sobre como seria viabilizado o eventual fim do fator previdenciário. (Brasil247)